sábado, 4 de novembro de 2017

Lynn Lahham


Boas histórias e a expectativa de comer me causam ansiedade. É por isso que eu cheguei às 18:15 num encontro marcado para quinze minutos mais tarde.

Bisher Midani é quem dá as boas-vindas no portão da confortável casa na Vila Valentin.

Nos aboletamos, Laurinho estava comigo, no sofá da sala enquanto a comida era preparada. Da cozinha vinha aquele perfume sedutor dos temperos do Oriente Médio. 

Inebriado pelos aromas, minha espera era pelos pratos e também para conhecer Lynn Lahham, esposa de Bisher e artista de forno e fogão.

Imaginava-a condicionado por estereótipos. Imaginava uma senhora de hábitos contidos, econômica nos sorrisos e que ostentasse vestes sóbrias e tradicionais. Nada disso!

Lynn chegou contrariando meu modelo mental. Vinte e oito anos, bonita, extrovertida, grudada num iPhone e ocidentalmente vestida. E sabe posar para fotos.

O casal sírio escolheu São João para criar a filha Celine, 5 anos. Distantes da complicada situação política na terra natal, eles estão felizes morando bem longe da guerra, neste torrão de notáveis crepúsculos. Bisher está trabalhando na área de exportação de uma empresa sanjoanense.

E por que o Brasil, Bisher? 
“Pesquisei muito na internet sobre o país de vocês. Um país pacífico, sem grandes conflitos. Um país com enorme potencial. E principalmente por ser uma nação de pessoas amigáveis e tolerantes com estrangeiros”. 

Lynn conta que, ao contrário da mãe, cozinha por prazer. A culinária, pra ela, é uma terapia. “As panelas me fazem bem”. 

O que era hobby passou a ser fonte de renda depois que alguns amigos crepusculares provaram a gastronomia dela em jantares fechados. As encomendas, o boca a boca e o Facebook ajudaram a impulsionar o Damascus na cidade e na região. Sim, na região. “Temos clientes de Poços e de outros lugares que vêm buscar nossa comida”.

O sucesso é tanto que abrir um restaurante está nos planos de Lynn. Hoje, os pedidos são por telefone ou mensagem e a retirada é no local em horário combinado.

Na noite da última quarta-feira, Lynn e Bisher foram generosos com este escriba glutão e seu filho. Nos acolheram com uma mesa de exclamações condimentadas. Tabule e quibe cru são clássicos. Clássica também é a esfiha, a esfiha! De outro planeta, a melhor que já comi nos meus sofridos 47 anos. Ainda: shawarma de frango e kabsa. Este último é um arroz com temperos sírios, carne de cordeiro e castanhas. 

Quem me acompanha nas redes pode imaginar o tamanho da minha satisfação com essa virtuose num legítimo lar árabe. 

Uma pergunta clichê merece uma resposta clichê:

—E da cozinha brasileira, Lynn, o que você mais gosta?
—Pão de queijo, churrasco...

Comer fora é programa de fim de semana da família Midani.

—Pizza, adoramos pizza.
—Qual é a melhor pizzaria de São João, Lynn?
Ela menciona dois nomes.
—Posso citar no texto as duas?
—Não, melhor não. 

As gargalhadas seguidas à negativa desarmaram-me para questionar a razão do sigilo e ratificaram o quão erradas estavam minhas pré-concepções estereotipadas. 

Shukran, Lynn, shukran!

Serviço: pedidos pelo WhatsApp (19) 99997-5031




Um comentário:

Luis Fernando disse...

Muito legal os textos, acompanhando pra conhecer mais.