Depois de um rápido namorico adolescente, cada um tomou seu rumo na vida universitária.
Ele: Comércio Exterior e Turismo. Ela: Negócios da Moda, na conceituada Anhembi Morumbi.
Eduardo Pradella estudava uma coisa e pensava em outra. Enquanto cursava Turismo, não sossegou até ser admitido na cozinha do Casa Grande Hotel, no Guarujá. Lavar pratos não era bem o que ele queria, mas estar ali, na muvuca aromática e fascinante do mise en place à finalização, o fez definir seu norte profissional.
No mesmo litoral sul de SP, na UniMonte em Santos, diplomou-se em Gastronomia.
Canudo na mão, era hora de ralar e praticar. De ajudante de cozinha à sous(segundo) chef, perambulou, entre outros restaurantes brasucas, pelo Sofitel, Kaá, Essence Maison Degaine...
A pátria gastronômica gaulesa é o sonho de quem quer ganhar o pão sob a coifa. Eduardo, em 2013, zarpou para uma temporada no sul da França —em Molitg-les-Bains— e foi beber na fonte de Michel Guérard, chef do estrelado Château de Riell.
Sylvia Merlin, ao término da universidade, também tratou de buscar trabalho e realização. Em Sampa, na sua área de formação, laborou com criação e estilo, assessoria de imprensa e produção. Um negócio próprio era o que ela queria. Qual negócio ela não sabia.
Arriscou numa loja online de bijoux e depois numa doceria —ou doçaria como querem os ortodoxos do idioma. Erros, acertos, tombos, lições, experiência.
Eduardo voltou da França e reencontrou Sylvia. Do flerte da puberdade ainda saíam fagulhas. Mergulharam de novo numa relação, mais madura, mas não menos intensa.
Da metrópole para a província. Regressaram ao pé da Mantiqueira com convicções pessoais e necessidades profissionais. Destas convicções veio o casamento em novembro de 2013. Das necessidades, uma ideia.
A intenção se concretizou num pulo, conta Sylvia: “sem firulas, sem rodeios, direto e reto”. Aquele impulso de jovens que querem, sabem e precisam. Jovens com habilidades manuais, com veia artística, com senso estético e que cresceram na onda da revolução digital que marcou este inicio de século 21.
Nascia em Sanja a Comidaria, um baita nome legal para um conceito de delivery gastronômico. O cardápio, enxuto e ecumênico, tinha risoto, pasta, costelinha de porco, salada e fritas.
Por não receberem comensais in loco, o investimento inicial não foi tão alto. Por usarem sua própria cozinha doméstica na empreitada, a casa padeceu de um inevitável rebu.
A coisa engrenou, principalmente, pelo esmero do Eduardo na execução dos pratos. Mas, no conjunto da obra, também contribuíram para o êxito: embalagens bacanas e modernas, uma identidade visual original —um mix harmônico de clássico e hipster— e uma divulgação muito bem feita via redes sociais. Isso tudo concebido pela multimídia e superconectada Sylvia que, por isso, acrescentou talento publicitário ao seu currículo.
“Sugestão do Chef”, aquele item variável, extra-menu, que surpreende o cliente foi incorporado à proposta de serviços comideiros.
Em meados de 2014 —junho pra ser exato— ofertaram um hambúrguer homemade na “Indicação do Cozinheiro”. Os pedidos explodiram, o telefone não parava e fotos no Instagram mostravam que no torrão do bauru de lombo ainda havia espaço pra outros sandubas. No caso, um de inspiração ianque, confecção artesanal, lindo em calorias e pra lá de sedutor.
A criatura atingiu uma dimensão que botou pressão na cachola do criador. Era hora de mudar, era hora de crescer. Era e foi.
No corredor hamburgueiro da aldeia, a Avenida Oscar Pirajá Martins, um imóvel residencial foi adaptado pra acolher a Comidaria Burger.
Após pesquisar influências do ramo no circuito São Paulo-NYC-Chicago, Eduardo & Sylvia reabriram as portas neste comecinho de outono.
E reinauguraram presenteando a cidade com um lugar que é a cara deles: contemporâneo, permeado por referências, descontraído e, ao mesmo tempo, mainstream e underground, da moda e do gueto.
Nada congelado, tudo fresco. O redondo de carne definitivo —depois de várias combinações experimentais— é um blend de fraldinha e ponta de peito. 160 gramas de dignidade.
Tem o meu respeito um cara que regala os fregueses com um hambúrguer rosado por dentro, a léguas da secura. Tem o meu respeito o cara que corta uma batata asterix na faca e a serve crocante acompanhada de molho barbecue rústico. Tem o meu respeito o cara que espeta picles de pepino na cabeça do sanduíche. Tem o meu respeito o cara que traz brejas inusitadas do Pará. Tem o meu respeito o cara que amolece o brigadeiro com creme de leite e tem a pachorra de apresentá-lo na colher escoltado por uma cerveja encorpada. Tem o meu respeito...
Eduardo & Silvia voltaram pra terrinha/E vão trampar muito no verão/Nas próximas férias não vão viajar/Porque a “filhinha” do Eduardo tá na maior ferveção/E quem um dia irá dizer/Que não existe razão/Nas coisas feitas pelo coração?... (Russo, Lauro)
Go, guys, go!
Joint: dignidade absoluta, pra lá de sedutor